quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO estreia a 13 de Dezembro


Cartaz de Sofia Frazão
Fotos de Paulo Abrantes


O Círculo de Giz Caucasiano, encenado por Marco Antonio Rodrigues - 37ª produção d' O Teatrão estreia a 13 de Dezembro de 2007, no Museu dos Transportes

Brecht escreveu O Círculo de Giz Caucasiano entre 1943/45, no final da Segunda Guerra Mundial, durante o seu exílio nos EUA. Nesta obra, o dramaturgo coloca, em forma de prólogo, uma discussão entre dois grupos de russos, em torno dos direitos sobre uma propriedade a que voltam após o afastamento das forças nazis. A questão, posteriormente desenvolvida na acção principal da peça, centra-se em saber sobre que princípio deve o caso ser estabelecido? Para isso, Brecht constrói uma fábula, de inspiração oriental. Durante a guerra civil, o filho do governador é abandonado pela sua mãe e criado por uma ajudante de cozinha, Gruscha. À semelhança de Shen-Té (A Boa Alma de Tsé –Chuan), Gruscha é levada a praticar acções erradas por necessidade. Por causa da criança, foge e acede a casar-se com um pretenso moribundo. Este, depois do casamento, volta à vida e quando o noivo de Gruscha retorna da guerra, encontra-a casada e, aparentemente, mãe. Gruscha não tem oportunidade de explicar o sucedido e tudo aquilo que fez por “bons motivos” acaba por ser mau para ela, bom para o menino. Na segunda parte, Brecht apresenta-nos Azdak, um trapaceiro que, pelas vicissitudes da guerra se torna juiz. Realiza os julgamentos num tempo de desordem, favorecendo os explorados. Mas a ordem é restabelecida e Azdak, que continua Juiz, tem de julgar o caso de Gruscha, acusada pela mulher do governador de ter roubado o seu filho. Azdak recorre à prova do círculo de giz para identificar a mãe. Gruscha desiste de puxar para si a criança e Azdak encontra nela a mãe verdadeira. Acaba ainda por divorciá-la para que fique livre.




Na minha parede existe uma gravura japonesa

A máscara de um demónio do mal, pintada em ouro.
Vejo pesarosamente
As veias inchadas das suas têmporas a indicarem
Como deve ser penoso ser mau

Bertolt Brecht




O Teatrão, como companhia de teatro de Coimbra, tem procurado na sua evolução perceber a sua função na comunidade, na cidade, na região e no país onde desenvolve a sua actividade. De uma tradicional companhia de teatro que produz espectáculos evoluiu, nos últimos tempos, para uma estrutura de acolhimento de outros projectos e artistas e para uma investigação, com consequências práticas, das possibilidades pedagógicas do teatro e, ultimamente, da dança tanto na criação artística com na evolução pessoal do indivíduo. Todos estes movimentos, estas buscas, têm um mesmo sentido ou objectivo: um contacto mais próximo e efectivo com público. A base deste pensamento ancora-se numa análise muito realista do distanciamento generalizado dos públicos do teatro em particular e de todas as manifestações artísticas em geral. Este facto está, obviamente, ligado a uma reflexão sobre a situação social, política, económica da sociedade que determina, para o artista, as suas opções estéticas. É deste impulso que nasce o projecto de produzir O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, não apenas como espectáculo de teatro e produto acabado mas, sobretudo, como possibilidade de discussão das ideias deste dramaturgo na actualidade.


Cultura, Transgressão e Representação

A opinião do público sobre a profissão do actor - um absurdo, um acinte e, por seu próprio carácter chocante, algo admirável – faz parte dos meios de produção do próprio actor. Ele precisa fazer alguma coisa com essa opinião. O Actor tem, então, que adoptar essa opinião do público sobre ele.

Bertolt Brecht in Cadernos de Trabalho (xxi-388)

Para mim ele quer dizer que ao invés de esconder o acto de representar (e a profissão que daí resulta), o espectáculo como um todo deveria tentar demonstrar à plateia que somos todos actores, e que representar é uma dimensão inseparável da vida quotidiana.

F. Jameson


Brecht escreve O Círculo de Giz Caucasiano sob os auspícios de um tempo novo, um tempo de paz em que se julgava o inimigo derrotado. Uma época de celebração, pois a reconstrução necessitaria de tempo e forças: O hiato entre a velha e a nova ordem. A possibilidade de transformação da sociedade.

Revisitar Brecht , agora, coloca-nos uma série de novos desafios.

Como ecoam estas ideias sobre nós, na actualidade? Acredita ou não o cidadão comum, hoje na possibilidade de mudança, na transformação do sistema?

A inspiração que Brecht nos pode dar é, antes do artista, a do cidadão. O que assistimos e fazemos, todos nós, trabalhadores de teatro, é julgar e criticar algo que pensamos exterior a nós, culpar o sistema, essa entidade de difícil definição que todavia domina a realidade quotidiana. No fundo, ninguém acredita na capacidade de mudança colectiva. Acreditamos, talvez na capacidade ilusória de um pretenso conforto apoiado no avanço tecnológico que também nas artes se repercute. Acreditamos que a relação entre público e plateia não tem capacidade de evolução, tendo esgotado já todas as suas possibilidades. Em suma, não acreditamos, desacreditamos. Como podemos então ser artistas? Como podemos então questionar o nosso posicionamento dentro do sistema? Como podemos tomar posição? É da responsabilidade do artista como produtor de pensamento, da sua posição percursora na sociedade que queremos falar, da força transgressora do indivíduo que age dentro do sistema, sabendo que a própria transgressão contém em si dois momentos: o reconhecimento da ordem estabelecida e a capacidade para inverter essa mesma ordem através das acções praticadas.

O Circulo de Giz Caucasiano possibilita esta discussão. O método brechtiano naquilo que anuncia não se fecha em si e nos resultados que promove, pois assim sendo seria uma linha de acção moral, ao contrário, ele permite a abertura de uma brecha onde se provoque a reacção e a discussão, onde se diminua a distância entre quem faz e quem vê, porque todos e cada um nos transformamos, nos reescrevemos, pelo simples acto de fazer.


À Volta do Círculo

1. Circulo de Conversas na Livraria Almedina

Cultura, Transgressão e Representação – O papel da arte na sociedade contemporânea – 10/Janeiro/2008 -18:00

Tradição e Ruptura – O caminho institucional do País – 17/Janeiro/2008 – 18:00

Brecht em Português – Percurso e Pertinência - 24/Janeiro/2008 – 18:00


2. Oficina de Encenação

Com Marco António Rodrigues.

14, 15, 16, 21, 22, 23 de Janeiro – 18:00 ás 21:00 na Oficina Municipal de Teatro

Público-Alvo: Actores, Encenadores, Estudantes, Curiosos com vontade de reflectir, discutir e partilhar ideias.

Para participar nesta oficina é condição essencial assistir ao espectáculo O Circulo de Giz Caucasiano.

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Espectáculo para maiores de 12 anos
de 13 de Dezembro de 2007 a 27 de Janeiro de 2008
Quarta-Feira a Sábado às 21h30, Domingo às 17h00
Museu dos Transportes
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Bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€

Informações e reservas: 239 714 013 _ 91 461 73 83 _ geral@teatrao.com

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Últimas apresentações de "Gil Vicente? Samicas..." e de "TerraTorga"










Fotos de Paulo Abrantes


Aproximam-se do final as temporadas dos espectáculos Gil Vicente? Samicas..., dirigido por António Fonseca e TerraTorga, uma criação de Leonor Barata. Depois de 2 meses em cena, estes espectáculos levaram ao Museu dos Transportes perto de 4000 alunos dos vários níveis de ensino das escolas da região centro do país. Iniciamos, agora, contactos no sentido de realizar digressão no ano de 2008.

Para quem ainda não teve oportunidade de assistir a estas nossas propostas, lembramos que o espectáculo Gil Vicente? Samicas... fará uma última apresentação no dia 10 de Novembro às 21h30 no Museu dos Transportes. TerraTorga apresentar-se-á, também a 10 e a 17 de Novembro pelas 17h00 no mesmo local.

Ora sus! Asinha que se quer ir!

Trailer Gil Vicente? Samicas...
http://br.youtube.com/watch?v=xUjd8ZTqiSc

Trailer TerraTorga
http://br.youtube.com/watch?v=sflVi2wS0lY

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Gil Vicente? Samicas... _ 10 de Novembro _ 21h30
TerraTorga _ 10 e 17 de Novembro _ 17h00
Local: Museu dos Transportes

Bilhetes:
8€ _ Bilhete Normal
5€ _ Blhete Estudante / Família
3€ _ Bilhete Grupo de 10 ou + pessoas

Reservas:
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Teatrão em Lisboa - O EFEITO DOS RAIOS GAMA NAS MARGARIDAS DO CAMPO, n' A Comuna, nos dias 19, 20 e 21 de Outubro

Foto de Paulo Abrantes

A 33ª produção d' O Teatrão, O Efeito dos Raios Gama nas Margaridas do Campo, de Paul Zindel, com encenação de João Mota, director artístico d' A Comuna - Teatro de Pesquisa, estreada a 7 de Fevereiro de 2007 em colaboração com a IX Semana Cultural da Universidade de Coimbra, apresenta-se, agora, na Sala Nova d' A Comuna, em Lisboa, no dias 19, 20 e 21 de Outubro. Esta é a 2ª saída em digressão do espectáculo, depois de uma passagem bem-sucedida em Évora, no Teatro Garcia de Resende, no passado mês de Abril. O texto de Paul Zindel foi premiado no ano de 1971 com o Pulitzer Prize for Drama.

É, para O TEATRÃO, uma proposta de discussão sobre as relações familiares entre uma mãe e duas filhas adolescentes, de sonhos perdidos, da dificuldade em viver a realidade nua e crua. O autor utiliza a experiência da exposição das margaridas aos raios gama como metáfora da própria vida desta família. Uma discussão sobre o indivíduo como produto do seu meio, produto dos seus próprios raios gama, onde uns têm capacidade de sobreviver e outros são destruídos. No fundo, uma discussão sobre o estado de “meia-vida” onde todos nos movemos, gastando a energia q.b. para sobreviver e encontrando no dinheiro o nosso meio e objectivo de vida. Só sonhamos o impossível, nunca concretizamos.

Sinopse:

Beatriz Cunha é uma mulher amarga, de língua afiada, que recebe em casa uma velha inválida como inquilina, tirando daí o sustento da sua família. Uma das filhas, Rute, é bonita, com frequentes ataques epilépticos. Matilde, a filha mais nova, não tem beleza aparente e é quase patologicamente tímida, possuindo, no entanto, um talento intuitivo para as ciências. Motivada pelo o seu professor de Física, Tillie realiza uma experiência com os efeitos de raios gama em margaridas do campo. Com esta experiência Tiliie ganha o prémio no concurso de ciências na sua escola – e provoca também o clímax arrasador da peça: orgulhosa e invejosa e, simultaneamente, demasiado afectada com as suas próprias mágoas para aceitar o sucesso da sua filha, Beatriz só mutila quando precisaria amar, critica quando quer louvar. Torturada, ela é vítima quer da sua própria natureza quer da cruel realidade que é a sua vida. Mesmo assim, a experiência de Tillie discute a possibilidade de que uma vida cheia de esperança pode surgir dum solo infértil e contaminado. Esta é a questão intemporal da peça, a raiz do seu poder emocionante e da sua verdade.

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Espectáculo para maiores de 12 anos / Duração _ 1h30 min.
19, 20 e 21 de Outubro na Sala Nova d' A Comuna - Praça de Espanha
Sexta-Feira e Sábado às 21h30 _ Domingo às 16h00
Reservas: 21 722 17 70

Preços dos bilhetes:
10€ _ Bilhete normal
7,5€ _ Bilhete Cartão Jovem, Sénior


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O Teatrão e a Câmara Municipal de Coimbra apresentam TerraTorga - Estreia a 4 de Outubro


Fotografia de Paulo Abrantes



A 36ª produção d' O Teatrão, TerraTorga, estreia no próximo dia 4 de Outubro pelas 21h30, no Museu dos Transportes. A convite da Câmara Municipal de Coimbra, O Teatrão preparou um projecto a que deu nome TerraTorga e que teve um primeiro momento no passado mês de Julho, com a realização de leituras de contos de Miguel Torga em vários espaços ao ar livre, em Coimbra. Estas leituras tiveram como propósito a apresentação do universo que o autor narra e descreve nos seus contos, calcorreando alguns dos lugares onde aquele terá encontrado um certo refúgio na cidade. Esta colaboração entre a nossa companhia e a autarquia conimbricense está inserida no programa de comemorações do centenário do nascimento do escritor, poeta e dramaturgo português, nascido em São Martinho de Anta, Trás-os-Montes. O espectáculo, com direcção de Leonor Barata, estará em cena até 17 de Novembro.


Terra, Família, Infância
TerraTorga é um espectáculo que nasce de um convite da Câmara Municipal de Coimbra para que O Teatrão se associe às comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga.
Como companhia com especial responsabilidade no trabalho com públicos infanto-juvenis, pareceu-nos ser, este, um grande desafio para partilhar o universo torguiano com os meninos e meninas que nos vêm visitar. Mas não só…
Mais do que dramatizar os contos de Torga ou recriar fielmente os ambientes que ele nos transmite, o que nos move, na construção deste espectáculo, é ao mesmo tempo a certeza de que este autor e as suas paisagens, apesar da diferença temporal e/ou geográfica que nos separam, ainda nos influenciam e nos constroem enquanto indivíduos e artistas e o desejo de partilhar essas imagens e reflexões com o nosso público.
Assim, a obra de Torga possibilita uma discussão em torno da nossa relação com a terra, como elemento primordial, mas também sobre a infância e a família e inevitavelmente sobre a memória que se constrói ou se vai construindo desses lugares, por vezes muito distantes.
A ideia que nos guiou, com Torga, foi sempre a possível existência de um Reino Maravilhoso, que, no seu caso, era identificada com Trás-os-Montes. Para nós, serviu de mote à construção de um espectáculo que cruza várias linguagens artísticas na procurar desse lugar. Um lugar, também, de fragilidade, nesse fio que nos conduz de um passado cheio de memórias para a projecção de um futuro, e que o vê como matéria sempre necessária. O futuro não se apresenta como destino traçado nem como inevitabilidade fatalista, ao contrário, o futuro que procuramos é esse lugar mistura de reino maravilhoso e sonhos por revelar, onde podemos respirar livremente.
TerraTorga apresenta-se, então, como um espectáculo sensorial, não narrativo, onde o que procuramos é o regresso à essência, através da construção de vários quadros. O regresso à terra. O regresso a Torga.

Leonor Barata


de 4 de Outubro a 17 de Novembro, no Museu dos Transportes
Sessões para escolas _ Segunda a Sexta: 10h30 e 15h00
Público Geral _ 4, 5, 6 e 27 de Outubro; 3 e 17 de Novembro: 21h30
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Preço dos bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante / Criança _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€ cada um

Informações e reservas:239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com








quarta-feira, 19 de setembro de 2007

STABAT MATER, pelos Artistas Unidos, no Museu dos Transportes nos dias 27, 28 e 29 de Setembro

Cartaz de João Maio Pinto / Foto de Jorge Gonçalves


O Teatrão abre a sua nova temporada de acolhimentos com o espectáculo Stabat Mater, de Antonio Tarantino, com encenação de Jorge Silva Melo, pelos Artistas Unidos. A actriz Maria João Luís recebeu, com este espectáculo, o prémio de melhor interpretação feminina, atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro. Stabat Mater estará em cena nos dias 27, 28 e 29 de Setembro, pelas 21h30, no Museu dos Transportes.


Maria, à procura do filho desaparecido, acaba por sucumbir. Ex-prostituta, mergulhada na miséria, sozinha, resignada e cheia de ódio contra a sociedade. O texto é uma longa afabulação não narrativa, onde a partir da imagem marginalizada, mas vibrante das figuras de fé e do mito, e da linguagem de rua dos imigrantes, que mistura os dialectos, com efeitos de verdades e comicidades irresistíveis, sobressai a heresia, própria da vida, de uma dor que não serve nem salva, e da história que impiedosamente repete o seu ciclo sem evoluir.
«No contexto de todos os conflitos "históricos" , as razões individuais ou colectivas de cada um dos militantes dos dois blocos, submetem-se e são instrumentalizadas pelos projectos dos grupos de poder opostos e, pelos mesmos, levadas ao paroxismo através da propaganda. Desta maneira, os sentimentos origináis dos dois povos que se defrontam, são manipulados, enfraquecidos, e assim atirados para o fundo da cena dos acontecimentos onde, em primeiro plano, se tornam cada dia mais evidentes os fins e os propósitos dos dois poderes em conflito.
Assim, a cena, gangrenada pela guerra, está pronta para ser pisada sem possibilidade nenhuma de oposição, tratamento ou cura. Tudo o que podia pertencer a um autêntico sentimento dos povos ( amor pela sua história, as suas tradições, a sua terra) é substituído pela política, pela economia, e pelo armamento. Que agora observam, do alto do seu incontestado domínio, o desenrolar dos acontecimentos. O caminho da "história".»
Antonio Tarantino
27, 28 e 29 de Setembro às 21h30
Museu dos Transportes
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Preço dos bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante / Criança _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€ cada um
Informações e reservas:
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Gil Vicente? Samicas... - Estreia a 13 de Setembro

Cartaz de Sofia Frazão


A 35ª produção d' O Teatrão, Gil Vicente? Samicas..., tem estreia marcada para o próximo dia 13 de Setembro, pelas 21h30, no Museu dos Transportes. Com direcção de António Fonseca, o espectáculo estará em cena até ao dia 10 de Novembro.

Quando eu tinha quinze anos fui tramado por Gil Vicente: num exame nacional de Português, saiu um excerto do Auto da Alma, um dos vários textos do pai do Teatro Português que tínhamos de estudar. Espalhei-me ao comprido, errei quase todas as respostas e por um triz não chumbei. Nunca mais olhei a direito esta personagem da Cultura Portuguesa, nebulosa na sua biografia: não sabemos nem quando, nem onde nasceu, nem quando morreu, nem se era ourives ou outra coisa qualquer. Sabemos que casou duas vezes que teve um filho chamado Luís e uma filha Paula, que a primeira mulher se chamava Branca Bezerra… e mais alguns pormenores… Teve muitas outras vidas que se confundem com outros nomes iguais.
Mas a obra aí ficou. E Gil Vicente passou a ser as mais de quarenta peças que escreveu, uma inspiração para muitas outras obras e sinónimo de desconfiança na escola e de sorriso escondido nos espaços dos versos e nos nomes das personagens. E muito, muito mais que isso…
Depois muito mais tarde, voltei a encontrar-me com o Mestre. Fiz como actor cinco peças dele, e algumas brincadeiras com textos seus. Li todos os textos que escreveu em português ou os que misturou com castelhano. Os que escreveu só em castelhano, confesso, passei à frente. Quando Portugal se juntar a Espanha, lá vou eu ter que os ler…
Não tenho saudades do tempo em que na escola o estudei. Uma escola que me falava muito dele mas não me dizia que Fernando Pessoa e muitos outros autores que descobri depois, tinham existido. E, não pondo em causa a importância de estudar Gil Vicente na escola, devo dizer que só lhe achei graça quando as suas palavras, as suas ideias, as suas personagens, as suas estórias ecoavam e se moviam no palco.
Este espectáculo acontece por isso. Para professores e alunos, Gil Vicente é, normalmente, um quebra-cabeças, uma chatice, um martírio. Mas ele tem outro lado. Aquele que nos fala das nossas vizinhas, dos nossos dramas existenciais, do prazer de inventar palavras, de brincar com os outros. Aquele que nos fala de um tempo de memória, antigo, longínquo e que nos liga a uma identidade mais vasta e que, tantas vezes na sua obra, parece contemporâneo do nosso. Mas essa qualidade da sua obra só se mostra em movimento, ao vivo, no teatro.
Se o teatro tem alguma função pedagógica parece-me ser esta: dar a ver as obras noutra perspectiva. Complicar o que já não é simples. Porque não tenham dúvidas: demorámos mais tempo a fazer este trabalho do que todo o tempo de aulas de Português que os alunos têm durante um ano. Seria para nós um grande motivo de orgulho se soubéssemos que este trabalho contribuiu para iluminar outras abordagens da obra de Gil Vicente, mas já ficaríamos muito contentes se tivesse sido um divertimento colectivo, uma viagem e despertasse uma curiosidade a ser concretizada lá mais para diante.

António Fonseca

de 13 de Setembro a 10 de Novembro, no Museu dos Transportes
Sessões para escolas _ Segunda a Sexta: 10h30 e 15h00
Público Geral _ 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de Setembro; 5, 6 e 27 de Outubro; 3 e 10 de Novembro: 21h30
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Preço dos bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante / Criança _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€ cada um

Informações e reservas:
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com








segunda-feira, 16 de julho de 2007

Apontamentos para abertura da temporada em Setembro

Foto de Paulo Abrantes


Deixamos aqui alguns apontamentos para a abertura da temporada 2007/2008, a partir de Setembro:

_ 13 de Setembro, estreia da 35ª produção d' O Teatrão: Gil Vicente? Samicas... ;

_ 27, 28 e 29 de Setembro, Stabat Mater, pelos Artistas Unidos;

_ 4 de Outubro, estreia da 36ª produção d' O Teatrão: TerraTorga;

_ 21, 22, 23 e 24 de Novembro, Pretas e Vermelhas Penduradas nas Orelhas, produção d' A Moagem - Cidade do Engenho e das Artes (Fundão);

_ 13 de Dezembro, estreia da 37ª produção d' O Teatrão: O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, encenado por Marco Antonio Rodrigues


Até lá, boas férias!

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Workshops nas Férias de Verão

Fotografia de Paulo Abrantes

O Teatrão, à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, prepara-se para realizar workshops de Expressão Dramática e de Dança Criativa nas férias de Verão, durante o mês de Julho. Abrimos inscrições para sessões na primeira e na segunda quinzenas, de maneira a que a ausência de Coimbra nesta época estival não impeça a participação dos eventuais interessados. Na primeira quinzena os workshops decorrerão de 9 a 13 de Julho e na segunda de 16 a 20 de Julho. As sessões são diárias e têm a duração de 1h30.

O workshop de Expressão Dramática, para crianças e jovens dos 6 aos 18 anos, pretende proporcionar aos participantes um primeiro contacto com o trabalho que desenvolvemos ao longo do ano lectivo nas Classes de Teatro. O workshop consiste num conjunto de actividades lúdicas que propiciem o jogo dramático, estimulando a imaginação, a expressão e a relação com o outro.

O workshop de Dança Criativa destina-se a crianças dos 6 aos 9 anos e tem por objectivo permitir um contacto com os métodos de criação do movimento na área da dança.

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Local _ Sala de Ensaios da Oficina Municipal do Teatro

Horários:
_ Expressão Dramática
dos 6 aos 9 anos: 14h30-16h00
dos 10 aos 13 anos: 11h30-13h00
dos 14 aos 18 anos: 16h00-17h30

_ Dança Criativa
dos 6 aos 9 anos: 10h00-11h30

_ Inscrições
As inscrições podem ser efectuadas através do nº 239 714 013, pelo email: geral@teatrao.com ou presencialmente na Oficina Municipal do Teatro. Cada inscrição é confirmada mediante o pagamento de 30 € até ao primeiro dia do workshop. Caso pretenda efectuar inscrição nos dois workshops, O Teatrão oferece um desconto de 10 € no valor final, ficando em 50 € a dupla inscrição.

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O Teatrão _ Oficina Municipal do Teatro, Rua Pedro Nunes, Qta da Nora, 3030-199 Coimbra
Telefone _ 239 714 013
Telemóvel _ 91 461 73 83
Email: geral@teatrao.com

terça-feira, 19 de junho de 2007

Resposta na Próxima Paragem estreia a 26 de Junho

Cartaz de Sofia Frazão


O Curso de Teatro e Educação da ESEC, em colaboração com O Teatrão, apresenta Resposta na Próxima Paragem, resultado final da componente artística do Projecto de Intervenção dos alunos do 4º ano. Dirigido por António Fonseca, o espectáculo estreia no próximo dia 26 de Junho pelas 22h no Museu dos Transportes, em Coimbra.

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Ao fim de 4 ou 5 anos de vida em Coimbra temos algumas certezas: um canudo, muitas recordações, alguns amigos para toda a vida, muitas iniciações. Olhamos para a frente, para o próximo tempo ou para o próximo sítio e temos um optimismo alarve, às vezes, outras, uma angústia que nos estrangula a esperança.

Coimbra é mesmo uma cidade do conhecimento?
O conhecimento é esta rotina de aulas, exames, frequências, professores, fotocópias? Ou é isto mas também é outras coisas? A vida académica é uma sucessão de acontecimentos folclóricos e evasivos ou também faz parte do conhecimento? Há um dark side of the knowledge como há um dark side of the moon, apenas intuído, que se tacteia com a pele e com a coragem de correr riscos por dentro de nós mesmos?

A partir de gestos académicos, e outros menos académicos, procurámos ao longo deste semestre desocultar este lado escondido da nossa vida em Coimbra: a expectativa da chegada, o trágico-cómico das aulas, o excesso das noites, alguma inabilidade no amor nem sempre assumida e a ansiedade da partida. A linguagem é o Teatro. O método é aproximativo. O resultado é: RESPOSTA NA PRÓXIMA PARAGEM.

Somos o 4º Ano do Curso de Teatro e Educação da ESEC. O Teatrão associou-se a este trabalho, criado no âmbito da disciplina Projecto de Intervenção.

Fazemos uma dedicatória especial: Aos finalistas da Academia de Coimbra.
António Fonseca

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de 26 de Junho a 5 de Julho, no Museu dos Transportes
Sessões diárias sempre às 22h00

Preço dos bilhetes:
Normal _ 5€
Estudante _ 3€

Informações e reservas:
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A Noite dos Animais Inventados, em cena no Museu dos Transportes

Cartaz de Sofia Frazão

A 34ª produção d' O Teatrão, A Noite dos Animais Inventados, baseada no conto homónimo de David Machado, vencedor do prémio Branquinho da Fonseca - 2005, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo jornal Expresso, estreou no passado dia 24 de Maio no Museu dos Transportes. O espectáculo, encenado por Deolindo Pessoa com adaptação de Jorge Louraço Figueira, estará em cena até 7 de Julho.
É noite. Amanhã é o primeiro dia de aulas e Jonas não consegue dormir. O fio de luz da porta aberta parece criar monstros com antenas e dentes pontiagudos. Jonas enterra-se debaixo da manta e tenta pensar em coisas boas…lembra-se da quinta dos avós e decide inventar uma galinha para lhe fazer companhia até o sono chegar. Aqui começa uma noite verdadeiramente mágica no quarto de Jonas.
As suas irmãs, que também sabem inventar animais, entram no jogo até que, de repente, o quarto se enche de leopardos, avestruzes, macacos, pinguins, ratos, girafas, elefantes colossais e até um dinossauro! Tantos animais inventados que já não há espaço para mais nada!
Mas começa a amanhecer e os pais devem estar a acordar…Há que fazer desaparecer toda esta floresta inventada! Como irão resolver esta situação?
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Notas Inventadas, por Deolindo Pessoa

Quando propusemos o conto A Noite dos Animais Inventados, de David Machado, como ponto de partida para um novo projecto 2007 não foi por ter sido distinguido com o prémio Branquinho da Fonseca 2005 atribuído pela Fundação Gulbenkian/ Jornal Expresso.
Quando acabámos de o ler ficámos fascinados com as aventuras fabulosas vividas por Jonas e os seus irmãos, e confesso mesmo que desejei lá estar no quarto, participar naqueles jogos, fazer parte daquela noite mágica e partilhar as expectativas do amanhecer.
Depois foi o estabelecer cumplicidades, aliciar companheiros para participarem nesta aventura teatral em que a imaginação plena fosse o grande desafio. O medo do escuro é submergido pelo jorrar de brincadeiras, a insónia tem no jogo o seu soporífero, a solidão é estar acordado com os outros a dormir. Esta é a onda do espectáculo que sonhámos construir e num arrebatamento quase que apetece gritar “imaginação ao poder”.
Porém, do sonho à realidade há um caminho frequentemente muito tortuoso, que se procura desbravar em múltiplas repetições, mas recheado de diferentes perigos em cada curva. As viagens nem sempre são realizadas nas melhores condições, mas há que aclarar objectivos e reciclar os eventuais acidentes.
Como fazer? Como entrar e sair do jogo ou fazer e desfazer jogos sem nunca deixar de jogar? Como criar um mundo que não passe apenas pelo mundo da razão?
A lógica do jogo não passa sempre pela lógica da razão.
Vamos jogar.

de 24 de Maio a 7 de Julho, no Museu dos Transportes
Segunda a Sexta (sessões para escolas): 10h30 e 15h00
Sábados e Feriados: 17h00
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Preço dos bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante / Criança _ 5€
Família (Pai ou Mãe + Filho) _ 5€ cada um
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€ cada um

Informações e reservas:
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A Excepção e a Regra - Estreia a 27 de Abril


A Excepção e a Regra, de Bertotl Brecht, encenação de Julio Castronuovo

Estágio artístico dos alunos do 3º ano do Curso de Teatro e Educação de ESEC, com colaboração e produção d' O Teatrão



A Excepção e a Regra é um dos textos mais conhecidos e mais representados de toda a vasta obra Brechtiana. Em Coimbra foi levado a cena em tempos de luta estudantil, em 1969 no CITAC e já em 1976 no TEUC. Tempos em que se acreditava que o mundo podia, devia mudar. Foi também nos anos anteriores à queda da ditadura que Júlio Castronuovo chegou a Coimbra. Em 70 encenou Imperador Jones de Eugene O’Neil e em 72 Woyzeck de Buchner.
Em 2007, em Coimbra, cruzam-se o texto de Brecht e Júlio Castronuovo porque ambos se mantém actuais, inquietos. Se alguns perderam o fôlego, desistiram de discutir, de intervir e de pensar, outros há que continuam a questionar.
Em A Excepção e a Regra há fortes e fracos, exploradores e explorados, há homens que competem pelo petróleo e que para o ganharem não olham a meios, há uma justiça injusta que defende os poderosos, há actualidade.
Levar hoje a cena este texto é agir, ir bem próximo do espectador e fazê-lo pensar. É não se conformar.



Sinopse


Esta peça didáctica de Brecht conta-nos a história de um Comerciante que, com a sua expedição, tenta atravessar um deserto na Ásia para alcançar uma concessão de petróleo em Urga. A expedição do Comerciante compete com uma outra que os segue de perto. O Comerciante trata rudemente os seus subordinados. No seco deserto, após ter despedido o Guia da expedição por suposta insubordinação, o Comerciante obriga o Cule a grandes esforços. Quando as reservas de água escasseiam, o Cule recorre a um cantil de reserva dado pelo Guia, que o Comerciante confunde com uma pedra e, por isso, com um ataque. Assim, o Comerciante mata o Cule. No subsequente julgamento é provado que o Cule só tentava ajudar o Comerciante. O Juiz alega, no entanto, que o Cule tinha todas as razões para odiar o Comerciante e que este último não poderia prever um acto de bondade do seu subordinado. O Comerciante agiu pela regra e não pela excepção. Um acto de bondade, de ajuda ao próximo é uma excepção e, segundo o Juiz, deve o homem reger-se pela regra.

27 de Abril a 4 de Maio, pelas 21h30

29 de Abril às 19h00

Museu dos Transportes

Bilhetes a 3€

Informações e reservas: 239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com