A 35ª produção d' O Teatrão, Gil Vicente? Samicas..., tem estreia marcada para o próximo dia 13 de Setembro, pelas 21h30, no Museu dos Transportes. Com direcção de António Fonseca, o espectáculo estará em cena até ao dia 10 de Novembro.
Quando eu tinha quinze anos fui tramado por Gil Vicente: num exame nacional de Português, saiu um excerto do Auto da Alma, um dos vários textos do pai do Teatro Português que tínhamos de estudar. Espalhei-me ao comprido, errei quase todas as respostas e por um triz não chumbei. Nunca mais olhei a direito esta personagem da Cultura Portuguesa, nebulosa na sua biografia: não sabemos nem quando, nem onde nasceu, nem quando morreu, nem se era ourives ou outra coisa qualquer. Sabemos que casou duas vezes que teve um filho chamado Luís e uma filha Paula, que a primeira mulher se chamava Branca Bezerra… e mais alguns pormenores… Teve muitas outras vidas que se confundem com outros nomes iguais.
Mas a obra aí ficou. E Gil Vicente passou a ser as mais de quarenta peças que escreveu, uma inspiração para muitas outras obras e sinónimo de desconfiança na escola e de sorriso escondido nos espaços dos versos e nos nomes das personagens. E muito, muito mais que isso…
Depois muito mais tarde, voltei a encontrar-me com o Mestre. Fiz como actor cinco peças dele, e algumas brincadeiras com textos seus. Li todos os textos que escreveu em português ou os que misturou com castelhano. Os que escreveu só em castelhano, confesso, passei à frente. Quando Portugal se juntar a Espanha, lá vou eu ter que os ler…
Não tenho saudades do tempo em que na escola o estudei. Uma escola que me falava muito dele mas não me dizia que Fernando Pessoa e muitos outros autores que descobri depois, tinham existido. E, não pondo em causa a importância de estudar Gil Vicente na escola, devo dizer que só lhe achei graça quando as suas palavras, as suas ideias, as suas personagens, as suas estórias ecoavam e se moviam no palco.
Este espectáculo acontece por isso. Para professores e alunos, Gil Vicente é, normalmente, um quebra-cabeças, uma chatice, um martírio. Mas ele tem outro lado. Aquele que nos fala das nossas vizinhas, dos nossos dramas existenciais, do prazer de inventar palavras, de brincar com os outros. Aquele que nos fala de um tempo de memória, antigo, longínquo e que nos liga a uma identidade mais vasta e que, tantas vezes na sua obra, parece contemporâneo do nosso. Mas essa qualidade da sua obra só se mostra em movimento, ao vivo, no teatro.
Se o teatro tem alguma função pedagógica parece-me ser esta: dar a ver as obras noutra perspectiva. Complicar o que já não é simples. Porque não tenham dúvidas: demorámos mais tempo a fazer este trabalho do que todo o tempo de aulas de Português que os alunos têm durante um ano. Seria para nós um grande motivo de orgulho se soubéssemos que este trabalho contribuiu para iluminar outras abordagens da obra de Gil Vicente, mas já ficaríamos muito contentes se tivesse sido um divertimento colectivo, uma viagem e despertasse uma curiosidade a ser concretizada lá mais para diante.
Mas a obra aí ficou. E Gil Vicente passou a ser as mais de quarenta peças que escreveu, uma inspiração para muitas outras obras e sinónimo de desconfiança na escola e de sorriso escondido nos espaços dos versos e nos nomes das personagens. E muito, muito mais que isso…
Depois muito mais tarde, voltei a encontrar-me com o Mestre. Fiz como actor cinco peças dele, e algumas brincadeiras com textos seus. Li todos os textos que escreveu em português ou os que misturou com castelhano. Os que escreveu só em castelhano, confesso, passei à frente. Quando Portugal se juntar a Espanha, lá vou eu ter que os ler…
Não tenho saudades do tempo em que na escola o estudei. Uma escola que me falava muito dele mas não me dizia que Fernando Pessoa e muitos outros autores que descobri depois, tinham existido. E, não pondo em causa a importância de estudar Gil Vicente na escola, devo dizer que só lhe achei graça quando as suas palavras, as suas ideias, as suas personagens, as suas estórias ecoavam e se moviam no palco.
Este espectáculo acontece por isso. Para professores e alunos, Gil Vicente é, normalmente, um quebra-cabeças, uma chatice, um martírio. Mas ele tem outro lado. Aquele que nos fala das nossas vizinhas, dos nossos dramas existenciais, do prazer de inventar palavras, de brincar com os outros. Aquele que nos fala de um tempo de memória, antigo, longínquo e que nos liga a uma identidade mais vasta e que, tantas vezes na sua obra, parece contemporâneo do nosso. Mas essa qualidade da sua obra só se mostra em movimento, ao vivo, no teatro.
Se o teatro tem alguma função pedagógica parece-me ser esta: dar a ver as obras noutra perspectiva. Complicar o que já não é simples. Porque não tenham dúvidas: demorámos mais tempo a fazer este trabalho do que todo o tempo de aulas de Português que os alunos têm durante um ano. Seria para nós um grande motivo de orgulho se soubéssemos que este trabalho contribuiu para iluminar outras abordagens da obra de Gil Vicente, mas já ficaríamos muito contentes se tivesse sido um divertimento colectivo, uma viagem e despertasse uma curiosidade a ser concretizada lá mais para diante.
António Fonseca
de 13 de Setembro a 10 de Novembro, no Museu dos Transportes
Sessões para escolas _ Segunda a Sexta: 10h30 e 15h00
Público Geral _ 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de Setembro; 5, 6 e 27 de Outubro; 3 e 10 de Novembro: 21h30
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Preço dos bilhetes:
Normal _ 8€
Estudante / Criança _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€ cada um
239 714 013 / 91 461 73 83 / geral@teatrao.com
1 comentário:
Vi esta peça de teatro no dia 12 de outubro de manha com a Escola José Falcão (sou do 10º1 desta escola)! Adorei o espectáculo e estou a pensar em vê-lo novamente no dia 3 de novembro a noite com amigos meus! Espero que continuem com boas peças de teatro e excelentes actores para realizá-las!
Ana Margarida Coelho, amsd_coelho@hotmail.com
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