Cartaz de Sofia Frazão
Fotos de Paulo Abrantes
O Círculo de Giz Caucasiano, encenado por Marco Antonio Rodrigues - 37ª produção d' O Teatrão estreia a 13 de Dezembro de 2007, no Museu dos Transportes
Na minha parede existe uma gravura japonesa
A máscara de um demónio do mal, pintada em ouro.
Vejo pesarosamente
As veias inchadas das suas têmporas a indicarem
Como deve ser penoso ser mau
Bertolt Brecht
O Teatrão, como companhia de teatro de Coimbra, tem procurado na sua evolução perceber a sua função na comunidade, na cidade, na região e no país onde desenvolve a sua actividade. De uma tradicional companhia de teatro que produz espectáculos evoluiu, nos últimos tempos, para uma estrutura de acolhimento de outros projectos e artistas e para uma investigação, com consequências práticas, das possibilidades pedagógicas do teatro e, ultimamente, da dança tanto na criação artística com na evolução pessoal do indivíduo. Todos estes movimentos, estas buscas, têm um mesmo sentido ou objectivo: um contacto mais próximo e efectivo com público. A base deste pensamento ancora-se numa análise muito realista do distanciamento generalizado dos públicos do teatro em particular e de todas as manifestações artísticas em geral. Este facto está, obviamente, ligado a uma reflexão sobre a situação social, política, económica da sociedade que determina, para o artista, as suas opções estéticas. É deste impulso que nasce o projecto de produzir O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, não apenas como espectáculo de teatro e produto acabado mas, sobretudo, como possibilidade de discussão das ideias deste dramaturgo na actualidade.
Cultura, Transgressão e Representação
A opinião do público sobre a profissão do actor - um absurdo, um acinte e, por seu próprio carácter chocante, algo admirável – faz parte dos meios de produção do próprio actor. Ele precisa fazer alguma coisa com essa opinião. O Actor tem, então, que adoptar essa opinião do público sobre ele.
Bertolt Brecht in Cadernos de Trabalho (xxi-388)
Para mim ele quer dizer que ao invés de esconder o acto de representar (e a profissão que daí resulta), o espectáculo como um todo deveria tentar demonstrar à plateia que somos todos actores, e que representar é uma dimensão inseparável da vida quotidiana.
F. Jameson
Revisitar Brecht , agora, coloca-nos uma série de novos desafios.
Como ecoam estas ideias sobre nós, na actualidade? Acredita ou não o cidadão comum, hoje na possibilidade de mudança, na transformação do sistema?
A inspiração que Brecht nos pode dar é, antes do artista, a do cidadão. O que assistimos e fazemos, todos nós, trabalhadores de teatro, é julgar e criticar algo que pensamos exterior a nós, culpar o sistema, essa entidade de difícil definição que todavia domina a realidade quotidiana. No fundo, ninguém acredita na capacidade de mudança colectiva. Acreditamos, talvez na capacidade ilusória de um pretenso conforto apoiado no avanço tecnológico que também nas artes se repercute. Acreditamos que a relação entre público e plateia não tem capacidade de evolução, tendo esgotado já todas as suas possibilidades. Em suma, não acreditamos, desacreditamos. Como podemos então ser artistas? Como podemos então questionar o nosso posicionamento dentro do sistema? Como podemos tomar posição? É da responsabilidade do artista como produtor de pensamento, da sua posição percursora na sociedade que queremos falar, da força transgressora do indivíduo que age dentro do sistema, sabendo que a própria transgressão contém em si dois momentos: o reconhecimento da ordem estabelecida e a capacidade para inverter essa mesma ordem através das acções praticadas.
O Circulo de Giz Caucasiano possibilita esta discussão. O método brechtiano naquilo que anuncia não se fecha em si e nos resultados que promove, pois assim sendo seria uma linha de acção moral, ao contrário, ele permite a abertura de uma brecha onde se provoque a reacção e a discussão, onde se diminua a distância entre quem faz e quem vê, porque todos e cada um nos transformamos, nos reescrevemos, pelo simples acto de fazer.
À Volta do Círculo
1. Circulo de Conversas na Livraria Almedina
Com Marco António Rodrigues.
14, 15, 16, 21, 22, 23 de Janeiro – 18:00 ás 21:00 na Oficina Municipal de Teatro
Público-Alvo: Actores, Encenadores, Estudantes, Curiosos com vontade de reflectir, discutir e partilhar ideias.
de 13 de Dezembro de 2007 a 27 de Janeiro de 2008
Quarta-Feira a Sábado às 21h30, Domingo às 17h00
Museu dos Transportes
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Normal _ 8€
Estudante _ 5€
Grupo de 10 ou + pessoas _ 3€