Depois das edições a cargo de Pedro Marques, Jorge Palinhos e Miguel Castro Caldas, chega a vez da dramaturga Sandra Pinheiro programar, nos dias 25 e 26 de maio, várias atividades em torno da leitura das cenas que escreveu para os atores d’ O Teatrão.
O projeto CONTA-ME COMO É resulta do desafio que O Teatrão lançou a estes quatro dramaturgos em 2012: inspirados pelo movimento que levou Bertolt Brecht a escrever Terror e Misério no III Reich (onde explora e desconstrói a influência do regime nazi nas relações privadas e pessoais do povo alemão), estes autores olharam o Portugal contemporâneo em busca das contradições deste, e escreveram cenas que atentam nos reflexos e influências que o nosso contexto macro atual produz nos planos da intimidade e das relações entre indivíduos. Estas cenas, que visam a construção de um espetáculo em 2014, são o centro deste projeto de programação que permite uma viagem ao universo sobre o qual os dramaturgos se debruçaram.
Sobre aquilo que desenha para esta edição do Conta-me, Sandra Pinheiro reflete: “Eu gosto de escrever sobre coisas que observo e, se repararem, as minhas cenas são muito fotográficas. Por outro lado, outra coisa que caracteriza os temas de que escrevo é o papel social das pessoas na comunidade. Misturando estes dois temas, surgiu a ideia destas atividades na programação: ou seja, uma das atividades vai ser sobre o meu olhar sobre a realidade (a leitura) e todas as restantes pretendem ver o olhar do público sobre essa mesma realidade”.
A autora convida mesmo a comunidade a ter uma participação ativa nesta edição do "Conta-me" para a primeira manhã, em ESQUISOMEDIA 1, está programado um périplo pelas ruas de Coimbra onde os participantes são chamados a registar - utilizando telemóveis, máquinas fotográficas e outros gadgets – as entrevistas que, junto com pedaços de peças dos noticiários atuais, lançarão as bases para no dia seguinte acontecer ESQUISOMEDIA 2, no edifício Sede do CAPC; na tarde de 25, MURO DAS LAMENTAÇÕES traduz-se num exercício artístico que, partindo das queixas das pessoas e do “apontar o que está mal”, pode resultar na construção do mural que servirá de cenário à LEITURA ENCENADA que os atores d’O Teatrão farão nessa noite das cenas de Sandra Pinheiro, na Tabacaria da OMT; AA MEETING – Apáticos Anónimos toma como ponto de partida as reflexões observadas nas atividades anteriores e propõe uma reunião no edifício sede do CAPC com pessoas que se sentem apáticas e incapazes de reagir perante a situação atual. A fechar o "Conta-me Como É", Sandra convida-nos para VELHOS E SÓS, sessão de cinema no Salão Brazil, onde será projetado o filme AMOUR de Michael Haneke.
Sandra Pinheiro é natural de Guimarães, e autora das peças ”Emprateleirados” Prémio Miguel Rovisco 2003 (Teatro da Trindade / Inatel), “BlindDate”, “Homens de cá e de lá”, ”Os filhos de Teresa” (Menção Honrosa Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno 2009), “Os trabalhadores invisíveis”, "O Coach" e “Como ser feliz em apenas 5 dias”. Participou em workshops de escrita com José Sanchis Sinisterra e Linda Seger e com Andrea Thome e Michael Bradford da Lark Play Development Centre de Nova Iorque. Em Julho de 2009, com uma bolsa da DGArtes e da Fundação Calouste Gulbenkian participou na residência de escrita dramática do Royal Court Theatre, em Londres, onde trabalhou sobre o texto “Os trabalhadores invisíveis”, sobre a realidade das fábricas do Norte de Portugal - o mesmo Royal Court que agora convida Sandra a integrar a 25 de junho o PIIGS*, evento onde vários escritores internacionais se juntam aos seus homólogos britânicos no Jerwood Theatre Upstairs para partilharem o que é a e como é a vida para aqueles que vivem na austeridade hoje.
* PIIGS - sigla que na língua inglesa designa Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, os países mais afetados pela crescente austeridade económica.
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