O Curso de Teatro e Educação em colaboração com O Teatrão apresentam o espectáculo Peer Gynt, no âmbito do Projecto de Intervenção do 4º ano daquele curso da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), de 20 a 29 de Julho no Polo II da ESEC.
Peer Gynt, em busca de si mesmo
Peer Gynt, embora não chegue a ser uma profecia sobre o “dirigismo pelos outros”, trata do perigo da falta de identidade, do perigo de uma pessoa ser uma cebola humana, toda feita de camadas sobrepostas, sem nenhum centro. - Eric Bentley
Peer Gynt, embora não chegue a ser uma profecia sobre o “dirigismo pelos outros”, trata do perigo da falta de identidade, do perigo de uma pessoa ser uma cebola humana, toda feita de camadas sobrepostas, sem nenhum centro. - Eric Bentley
Peer Gynt, considerada uma das obras precursoras do teatro moderno – o teatro de discussão de ideias – apresenta um homem que da juventude à velhice procura o seu verdadeiro eu, a sua identidade.
Peer Gynt condensa o percurso de uma vida. Uma vida que, embora revestida por acontecimentos fantásticos, com surpreendentes aventuras com trolls, pastoras ninfomaníacas, beduínas no deserto de Marrocos, directores de hospício no Cairo, figuras alegóricas e simbólicas, pode perfeitamente ser a nossa.
Se não vejamos: Peer Gynt quer ser imperador, mas não sabe bem de quê, nem porquê, apenas quer sê-lo porque daí, pensa ele, lhe pode advir uma grande respeitabilidade e admiração social. No entanto, nada faz de palpável para concretizar este sonho. Fica à espera que o destino, por um qualquer golpe de mágica lhe ofereça de mão beijada aquilo por que tanto anseia. Deixa-se ir ao sabor do tempo, segundo as circunstancias, agarrando com toda a força do seu ser as pequenas oportunidades que lhe vão aparecendo. As três premissas que Peer orgulhosamente diz regerem a sua vida são: nunca dar um passo decisivo; avançar com prudência entre as mil ciladas da vida; deixar atrás de si espaço suficiente para bater em retirada. Premissas que assentam em princípios que nunca o comprometem com nada nem ninguém. Nunca decide, nunca opta e tem sempre a possibilidade de reconsiderar. É o mundo que faz Peer e não Peer que interfere no mundo. É o homem feito por sucessivas camadas e sem centro.
Ibsen afirmou sobre esta personagem: Peer Gynt sou eu nos meus piores momentos. E Peer Gynt não somos nós quando nos deixamos comandar pelo destino em vez de agirmos sobre ele? Não somos nós quando não tomamos opções, quando não decidimos o que verdadeiramente queremos ser ou ter, quando não traçamos objectivos para nossas próprias vidas e nos pomos a deambular sem rumo à espera que as oportunidades nos caiam do céu? Não somos nós quando queremos “bastar-nos a nós mesmos”, sem olharmos para o mundo à nossa volta? Quando, ao invés de arregaçarmos as mangas e lutarmos por algum projecto válido, ficamos imóveis, passivos, à espera que um qualquer D. Sebastião, numa noite de nevoeiro, nos venha libertar dos males de que padecemos?
Uma palavra ao público
Avisam-se desde já todas as pessoas que venham ver o nosso espectáculo que não esperem assistir a uma montagem museológica de um clássico da literatura dramática. Esperamos, antes, que tenham uma boa disposição anímica para ver uma bem-humorada e comovente comédia. Porque é através do riso que podemos melhor reflectir sobre a vida, interrogar os seus vários aspectos e descobrir o verdadeiro prazer de olhar com outros olhos para nós mesmos e para o mundo que nos rodeia.
Do velho pavilhão do Polo II da ESEC fizemos uma arena para que os espectadores possam estar mais próximos do espectáculo e, no despojamento do espaço cenográfico, verem surgir uma multiplicidade de cenários: esfinges, explosões de iates, cavalos a galopar, uma aldeia, uma floresta, uma praia, um oásis no deserto, um hospício, o interior de um navio, um mar imenso...
Sendo um poema dramático, Peer Gynt vive da comunhão entre o trabalho do elenco e a imaginação dos espectadores.
20 a 29 de Julho, no Polo II da ESEC (antigo ISCA), perto da Fac. de Economia, pelas 21h00. Entrada livre!