Um ator sozinho em palco, a dizer Os Lusíadas de cor e salteado, é quase como um poeta a salvar o manuscrito das águas do Índico, depois de um naufrágio.
Faltam palavras para descrever o acontecimento que é escutar Os Lusíadas ditos. Mais do que a literatura, emerge a consciência de Camões, capaz de capturar um ponto de viragem da história de Portugal, o reinado de D. Sebastião, ao mesmo tempo que recapitula os pontos anteriores dessa história. António Fonseca faz acompanhar a récita do texto integral com histórias, comentários e referências que vão revelando os significados ocultos da obra e contextualizando o interesse e importância de Os Lusíadas hoje, no dealbar de mais um século.
Depois da estreia na Capital Europeia da Cultura, em Guimarães, e das apresentações no Centro Cultural de Belém e São Luiz, em Lisboa, Os Lusíadas chegam a Coimbra, onde António Fonseca começou por apresentar um a um os cantos do poema. A todos os cantos de Coimbra: os versos não serão ouvidos apenas n’O Teatrão. Dublin tem o seu dia de dizer Joyce e Espanha o dia de dizer Cervantes. Pois a Lusa Atenas terá semanas de Camões, um pouco por toda a parte.
A lenda de um Luís Vaz de Camões boémio e eterno apaixonado começa a contar-se por Coimbra, onde o poeta terá estudado os clássicos e sofrido as primeiras coitas de amor. Agora que o ator António Fonseca se prepara para dizer os dez cantos de Os Lusíadas, uma tarefa homérica, hercúlea e ciclópica, nada como recordar o lado humano tanto do poeta quanto do ator, que tornam tão impressionantes estas duas aventuras: a de escrever os 8816 versos de Os Lusíadas, e a de dizer de cor os 8816 versos de Os Lusíadas. O Teatrão, a SUL (em parceria com a Roughcut) e António Fonseca convidam toda a cidade para revisitar Os Lusíadas a partir de um ponto de vista muito diferente do habitual: o das pessoas comuns, que nunca leram senão algumas estrofes do poema. Por isso, começamos com uma série de visitas a tascas tradicionais de Coimbra, onde se podem comer petiscos os mais variados, entremeados com poesia, e seguimos com a apresentação de antologias do poema em escolas secundárias e na Casa da Escrita (numa parceria com o Centro de Estudos Camonianos da Universidade de Coimbra), para culminar no dia da récita com a participação no espetáculo de dezenas de amigos e espetadores, que vão dizer o último canto de Os Lusíadas em conjunto com o ator. Antes ainda, haverá oportunidade para assistir ao documentário "8816 versos" realizado por Sofia Marques e que regista parte da aventura que tem sido falar de cor "Os Lusíadas".
